Fui, com um dos meus filhos, o Miguel, e sua namorada, a Maria Júlia, ao recente jogo da seleção brasileira, o da despedida do Ronaldo, no aconchegante Pacaembu, em São Paulo. Uma terça-feira de muita chuva e frio na capital. Um caos na cidade. Tudo congestionado no entorno do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho. Deixei o carro com um flanelinha, por 15 real (isso porque eles estavam pedindo 40 conto), ao som do hino nacional. Entramos no campo com dez minutos de jogo. Não deu nem pra ver a escalação no painel luminoso. Jogo da seleção ao vivo é assim, tumultuado.
Ficamos atrás do gol onde o Fenômeno finalizou três vezes, livre, na cara do goleiro, e não marcou. Quiseram os deuses da bola que assim fosse: nos últimos 15 minutos da carreira do maior goleador de todas as copas, a bola não entra. Coisas do futebol.
Estávamos atrás do gol (um pouco pra esquerda, na curva das arquibancadas amarelas) dos portões de entrada do estádio. Fico sempre por ali, ao lado da Gaviões da Fiel, quando vou ver o glorioso Sport Club Corinthians Paulista, com os meus quatro filhos.
Jogo da seleção ao vivo, você é obrigado a ficar sentado ao lado de torcedores dos outros times. Não dá pra escapar. E esses torcedores geralmente torcem para os jogadores dos seus respectivos clubes, secando, e até vaiando os nossos. Cadê aquela corrente pra frente, noventa milhões em ação, parece que todo o Brasil deu a mão?
— Meu, seleção pra mim é Rogério Ceni e mais dez – diz um lá, com agasalho todo branco, novinho em folha, do São Paulo Futebol Clube. Está acompanhado por uma jovem candidata a perua, bonitona, maquiada, cabelos loiros soltos ao vento frio, igualmente de agasalho, com botas de saltos altíssimos. Pergunta sem parar ao parceiro, que não lhe dá a menor atenção: cadê o Ronalducho, bem?
— Tá faltando o Gladiador nesse time – fala um outro, do meu lado, enrolado em um cachecol verde, acompanhado pela mulher, em início de gravidez (ou seria barrigudinha por natureza?).
Como a grande maioria dos jogadores da seleção joga fora do país, ninguém sabe quem é quem. Ainda mais olhando de longe, sem o costumeiro close da televisão.
— Aê, grande, quem é o 10? – pergunto pro cara que tá na minha frente, mais preocupado em fotografar o filho pequeno, no jogo de despedida do Ronaldo Fenômeno, do que ver a seleção.
— Não sei, não – responde rápido, ao mesmo tempo que me passa o celular. - Pode tirar uma foto minha com o meu moleque? É só apertar aqui, ó. Vê se dá pra pegar o campo, de fundo.
Viro pro lado e vejo um bando de jovens bem vestidas, caras pintadas de verde e amarelo, todas acompanhadas. Como tem mulher no jogo da seleção. Faço a mesma pergunta para um dos acompanhantes, ares de entendido de futebol.
— Quem? O 10? É aquele tal de thiago-não-sei-das-quantas-do-flamengo.
Não é o Thiago Neves. Esse 10 aí da seleção é baixinho. Subo dois degraus da arquibancada.
— O 10? É o... É o... Como é mesmo o nome daquele que jogou no Curíntia e foi pra Espanha? Tá aqui, na ponta da língua...
Tá querendo dizer o Nilmar. Esse eu manjo, sei que ele está no banco e só deve entrar no segundo tempo, se entrar. Ninguém sabia quem era o dono da consagrada camisa 10 da seleção (reparou que números mais feios e esquisitos, esses atuais do nosso escrete?). Tentei apelar para o meu celular, que pega televisão, mas o delay (atraso do som e da imagem em relação ao que assisto ao vivo) é tão grande, que nem vale a pena. Dá até tontura. O que você assiste ao ‘vivo’ na televisãozinha do celular é uma espécie de replay do que você vê ao vivo no campo. E o som, abafado pelo da torcida, é inaudível. Isso acabou com a minha bateria em cinco minutos e me deixou enjoado e incomunicável. Só depois, voltando para casa, pelo rádio do carro, descubro que o 10 era o Jádson. Segundo as prováveis escalações dos jornais do dia, ele não ia entrar jogando. Você aí, que me lê, sabe quem é o Jádson? Foi de onde pra onde?
Jogo da seleção brasileira ao vivo tem de ter radinho de pilha na orelha, como nos velhos tempos. E binóculos. Só assim você fica sabendo quem saiu e quem entrou no segundo tempo. Ninguém mais sabe identificar os jogadores do Brasil em campo. O único que dava para reconhecer das arquibancadas era o Ronaldo, nos quinze minutos que pisou no tapete verde.
Metade do segundo tempo, os casais, digo, a torcida começa a abandonar o local do espetáculo. Não vê o final do jogo. E ainda sai vaiando a seleção, o time que foi assistir e torcer.
— Copa do Mundo no Brasil, com esse timeco? Não sei não...
— Ah, bem, até que foi divertido – sorri a perua, noiva do bambi.
Divertido mesmo é ir ao estádio ver o seu clube de coração, ao lado dos mano de verdade. A energia é outra. Única. Identificamos cada jogador em campo, até os sentados no banco de reservas. Ficamos ali, até o fim, sofrendo, vibrando, torcendo.
Seleção brasileira ao vivo? Só em casa, na televisão, tomando uma. E olhe lá! Ainda mais agora, sem o Fenômeno...