O negócio é dormir sem medo do outro dia. (Raul Seixas)

Não me espere para o almoço

Os bombeiros não sabiam mais o que fazer para controlar o fogo que queimava aquela floresta na Califórnia, Estados Unidos. Passaram a noite inteira tentando acabar com o incêndio que começara no início da tarde do dia anterior. Em vão. Milhares de hectares já estavam completamente consumidos pelas chamas. O risco era o fogo se alastrar ainda mais, por causa dos ventos, e atingir as cidades mais próximas.

As autoridades ambientais debatiam na tevê sobre a grave ameaça para a conservação da biodiversidade e manutenção dos processos ecológicos de toda a região. São Francisco, a principal cidade, tem fama mundial por sua rica fauna.

Na manhã seguinte, com o sol radiante no céu azul da Califórnia, surge a brilhante ideia de um soldado-raso da corporação, a saída para aquele incêndio devastador: por que não pegar água do mar para apagar o fogo? E o mar estava logo ali, a 20 milhas de voo da floresta.

Um jovem executivo de São Francisco acorda bem cedo, toma seu breakfast: café com leite de cabra, suco de laranja de caixinha, pão com margarina sem sal, torradas feitas na hora, geleia de framboeza, omelete com bacon e tudo o que tem direito. Não lê o jornal, como faz todos os dias nessa hora. Parece que tem pressa. Escova os dentes, dá um beijo na esposa.

— Querida, vou sair para mergulhar. Desta vez em alto mar! Preciso relaxar um pouco, ando muito estressado com essa crise mundial. Quero ficar sozinho, sossegado, do you understand? Não me espere para o almoço, ok?

Helicópteros Sikorsky S-61 são convocados para a missão. Para quem não sabe, esse tipo de aeronave está aparelhado para carregar baldes gigantes, os chamados bambi buckets, para captação de água. O maior deles, para se ter uma noção, comporta cerca de 37 mil litros de água, aproximadamente 10 mil galões. Uma piscina.

Os helicópteros voam até o oceano, baixam os baldes no mar para enchê-los e, em seguida, são carregados, suspensos, até a floresta. A água salgada é despejada sobre o fogo que queima lá embaixo. Cada baldada do piscinão faz o maior estrago – a água que cai lá de cima apaga as chamas na hora, levantando uma fumaça preta com cheiro de lareira entupida.

A operação, enfim, é um sucesso. Em poucas horas o incêndio está debelado. Quando os bombeiros fazem o rescaldo, isto é, dão aquela conferida final nos escombros do sinistro, descobrem um corpo carbonizado entre as cinzas ainda quentes da queimada. Está de traje completo de mergulhador, com cilindro de oxigênio, máscara e pés-de-pato.

— Mas o que é isso, soldado?

— Um corpo, Capitão! Pelo tamanho, corpo de um homem adulto, senhor!

— Isto eu estou vendo, soldado! Mas com esses trajes, aqui, no meio da floresta? Olha o estado que ficou esse pé-de-pato... Levem esse corpo! Come on, man!

— Positivo, senhor! Vamos averiguar.

The end!

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