O negócio é dormir sem medo do outro dia. (Raul Seixas)

Mestre Dunga Zangado

Dunga falou: “Temos que respeitar as individualidades, quando estamos concentrados na seleção, para o bom convívio geral. Agora, quando cada um estiver livre, aí, depende. Cada um tem o gosto de fazer alguma coisa. Nem todo mundo gosta de sexo, nem todo mundo gosta de tomar o seu vinho, nem todo mundo gosta de sorvete. Então, tem que respeitar, né?”.

Ao ouvir isso, viajei direto para a Alemanha, Copa do Mundo, 1974. Não ganhamos, todos se lembram. Ficamos em quarto lugar, perdendo o terceiro para a Polônia, por 1 a 0, gol do Lato, o atacante careca. Aliás, o artilheiro daquela Copa, com sete gols. Depois desse jogo, no vestiário, o goleiro Leão deu um tapa na cara do Marinho Chagas, aquele loiro, nordestino, que batia um bolão. Achou que o lateral-esquerdo falhara no lance do gol polonês. Logo ele, tão simpático, brincalhão e mulherengo. Ponto.

Em 1981, a Editora Três ressuscitou a revista Careta, reedição da famosa publicação, bem-humorada, que tanto sucesso fez nas mãos do Apparício Torelly, o Barão de Itararé, no início daquele século. A nova Careta, semanal, tinha como editores, o Tarso de Castro (meu bródi), no Rio de Janeiro, e o Mario Prata (meu irmão), em São Paulo. Entre os colaboradores, João Ubaldo Ribeiro, Luiz Fernando Veríssimo, Glauber Rocha, Hugo Carvana, Cacá Diegues, Daniel Filho, Plínio Marcos, Glauco, Angeli, Hubert e Paulo Caruso. Só para citar alguns. E eu. Hehe! Assinava Campos de Moraes (meus outros sobrenomes).

Campos de Moraes era o responsável pela coluna Sporte Spetacular (assim mesmo, com o esse mudo no início; invenção do Tarso), ilustrada pelo Caruso, onde revelava as aventuras sexuais de jogadores de futebol do Brasil. Campos de Moraes entrevistava os boleiros e publicava. Sem censura. O maior fornecedor/contador das histórias era justamente o falante Marinho Chagas.

Voltemos para a Alemanha. Os jogadores ficaram concentrados em um hotel, um castelo, no alto de um morro, no meio de uma floresta. O local era circundado por cercas elétricas de arame farpado, vigiados por policiais armados até os dentes e ameaçados por cães pastores-nacionais, com os dentes de fora. Vale registrar que, dois anos antes, nas Olimpíadas de Munique, na mesma Alemanha, 11 membros da equipe olímpica de Israel foram feitos reféns pelo grupo terrorista palestino denominado Setembro Negro. O atentado virou até filme. Quer dizer, os alemães estavam atentos. Ligados. Ninguém entrava ou saía do hotel. Sexo? Nem pensar! O importante era trazer o novo caneco.

Os jogadores, há um mês na Europa, fazendo amistosos, estavam subindo pelas paredes. Nossos craques não tinham como sair do castelo. E, lá fora, as alemãzinhas, loirinhas, branquinhas, jovenzinhas, faziam caras e bocas para os nossos vigorosos atletas latinos, enclausurados. Verão europeu.

Mas, porém, todavia, contudo... um dos nossos valorosos atletas descobriu o portão dos fundos do castelo, meio escondido, onde havia um despenhadeiro. Foi a salvação nacional. O plano era o seguinte: um dos jogadores era destacado para ‘vigiar’ o guarda que vigiava aquela área do hotel. Quando ele passava pelo portão, e iniciava sua ronda em volta do castelo, o ‘vigia’ dava o toque para um outro companheiro, que corria para abrir o portão e, um terceiro, saía. E assim, num sistema de rodízio muitíssimo bem-organizado, todos tinham oportunidade de dar um jeito naquela situação na qual os cartolas os haviam colocado. Não tinham muito tempo. Era ali mesmo, na ribanceira, junto com as formigas. Rapidinho. Podiam ser descobertos pelo professor.

Marinho Chagas, o lateral dos cabelos oxigenados, jeito de surfista, numa de suas investidas, foi convidado por uma daquelas loirinhas, a mais reservada, para ir até a residência dela, logo ali no pé do morro. Tomar um vinho. Marinho não declinou do convite. Pediu aos companheiros para segurar a onda e foi lá conferir. Afinal, uma oportunidade como essa...

Chegou lá, cheio de amor pra dar. Ele e a alemã começaram a ‘conversar’. Mais na base da mímica, já que o nosso craque só hablava portunhol, more or less. Estavam se entendendo perfeitamente.

A loira mostra-lhe uma garrafa de vinho branco, nacional.

— Muy bueno! Very good!

Abre a garrafa, serve duas taças, brindam. O craque dá uma piscadela para a alemã, com aquele sorrizinho maroto latino americano de ‘tá no papo’. A bela loira coloca uma música lenta e o convida para dançar. Rosto colado. Marinho Chagas fica todo animadão. Vai logo tirando a camiseta. “Mutcho calor acá em su país, baby”. Ela, na dela.

— É hoje! - grita o nosso herói, chutando suas sandálias Rider para os lados.

What?

— Nada não, my darling. No problema. Very good! I love you!

Continuam dançando e bebendo vinho. Nosso ídolo, em ponto de bala, tira o calção, azul, com três listras brancas do lado. Ela, na dela.

Camam, baby! Saque su ruepa! Usted is muy hermosa. Beautil girl!

One moment, Marrinho!

Marinho Chagas, nuzinho da silva, no meio da sala. Pronto para atacar. Surge um alemão, alto, bem mais alto do que ele. Cabelos igualmente loiros, escovinha. Forte. Vermelho. Sorridente. Dentes brancos.

My husband, Marrinho.

— Mas o que es eso? Que se passa acá?

Veste a calção rapidamente, ameaça sair. O alemão coloca-se na sua frente, na porta. Um armário! Calmo. Dentes brancos.

— Tá pensando o quê, seu chucrute de merda? Tu é grande, mas não é dois. Sai da minha frente! – E ameaça sair na porrada com o gigante.

O alemão, que parlava italiano, o segura com uma só mão e o tranquiliza. Diz que admira seu futebol, seu jeito de correr com os cabelos soltos ao vento pela lateral do campo e quer satisfazer um velho sonho: ver sua bela mulher dançando com ele. Só isso.

Marinho dá um chega prá lá no grandão, sai correndo da casa, calçando o Rider e vestindo a camiseta, com os logotipos dos patrocinadores, do lado avesso, sem perceber.

— Alemão boiola do caraio! Tou fora.

Marinho Chagas, na Copa do Mundo da Alemanha, quando esteve ‘livre’, fez o que mais gostava: procurou sexo, tomou vinho e dançou. Quase dançou, convenhamos. O Brasil, sim, dançou.

E agora, na África do Sul, quando os jogadores do Brasil estiverem ‘livres’? Sexo, vinho & sorvete, liberados. Cada um tem o seu gosto. Tem que respeitar, né, professor?. O que será que vai acontecer?

O que será que será? Só nos resta torcer para o Brasil não dançar desta vez. E o nosso Mestre Dunga Zangado, enfim, relaxar, tirar uma Soneca e acordar Dengoso e Feliz. Para sempre.

Atchim, Brasil!

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